O ministro brasileiro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, saudou os contratos de cooperação firmados. “Alemanha e Noruega valorizam os esforços de combate ao desmatamento por meio do Fundo Amazônia, que é um importante vetor de políticas ambientais na região”, afirmou.
Nos últimos meses, recursos do Fundo Amazônia ajudaram a custear veículos e outros equipamentos usados por agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
“Criação do homem branco”
Cacique Raoni, líder da etnia caiapó, viajou a Bonn e acompanhou os anúncios das novas doações para combater o desmatamento. Com uma idade estimada em 88 anos, o líder de populações indígenas de Mato Grosso está acostumado a grandes plateias e autoridades internacionais.
Ele diz se alegrar com a cooperação internacional, mas ressalta que o maior problema tem que ser tratado dentro do Brasil. “O que acho mais importante para os povos indígenas é a terra. A gente precisa de terra demarcada”, afirma.
“O dinheiro não é uma criação do meu povo, é uma criação de vocês, do homem branco”, diz Raoni na língua indígena, traduzida para o português por seu sobrinho-neto, Patxon Metukktire.
“Quando se tem a terra, os indígenas podem usar o dinheiro que esses países estão investindo para fazer nossa agricultura, o desenvolvimento, do nosso jeito, nas nossas terras”, complementa Raoni.
Momentos após o anúncio, lideranças indígenas lançaram na COP23 um manifesto contra retrocessos internos, citando o projeto de lei que será levado ao Congresso para autorizar arrendamento de terras indígenas. No dia anterior, um grupo havia apresentado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos denúncias sobre o aumento de violência – 118 indígenas foram assassinados no ano passado, segundo dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
Para André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o dinheiro dos países doadores é menos importante. “Cooperação internacional é extremamente necessária para conservação”, justifica. Guimarães cita o impacto positivo de mais de 40 anos de cooperação com a Alemanha, que classifica de “permanente e consistente”.
Segundo Guimarães, o trabalho conjunto, ao longo dos anos, foi importante para se conhecer melhor a Amazônia. Projetos em comum ajudaram, por exemplo, a criar o sistema de alerta de queimadas.
Florestas sentem mudanças climáticas
Estima-se que 11% das emissões globais de gases de efeito estufa venham do desmatamento. Um estudo publicado pelo centro de pesquisas Woods Hole concluiu que o fim da destruição das florestas tropicais, o manejo sustentável e a restauração de 500 milhões de hectares poderiam capturar 100 bilhões de metros cúbicos de CO2 – o que equivale a dez vezes o volume emitido por ano pela queima de combustíveis fósseis.
Mas as florestas estão fora da mesa de negociação na COP23. Na reunião, de caráter mais técnico, o assunto é abordado de forma lateral, o que Guimarães considera um erro.
“Florestas podem ser uma ponte até que tenhamos tecnologias que substituam de vez as fontes fósseis. Trabalhar e restaurar floresta tropical é estratégico para manter a temperatura abaixo dos 2 graus Celsius [meta do Acordo de Paris]”, avalia o diretor do Ipam.
Na COP23, diversas entidades – e o governo brasileiro – defendem a criação de programas que compensem financeiramente quem preserva áreas de mata, mecanismo conhecido como pagamento por serviço ambiental.
“É outra parte do processo de acabar com o desmatamento. É compensar quem está fazendo direito, quem mantém a floresta em pé”, comenta Guimarães.
G1