Com apenas 21 anos, campeã dos Jogos Parapan-Americanos de Lima e classificada para a Paralimpíada de TóquioSilvana Fernandes, atleta do parataekwondo, é taxativa. Mesmo disputando a modalidade há apenas dois anos, ela tem muito claro o seu objetivo. “Meu sonho é fazer história na modalidade”.

Apesar do pouco tempo na modalidade, Silvana Fernandes vem mostrando resultado desde os primeiros campeonatos. Com cerca de um ano no parataekwondo, a atleta assumiu a titularidade da categoria até 58 kg na seleção brasileira e logo conquistou seu primeiro título internacional. Foi o ouro no Parapan de Lima.

“Foi uma experiência incrível. Eu não esperava o ouro, mas fiquei ainda mais surpresa com a minha forma técnica na competição. Querendo ou não eu tive pouco tempo de preparação, com treinos adaptados pelo meu mestre e aproveitando os campings da CBTKD”.

Silvana Fernandes com a medalha de ouro dos Jogos Parapan-Americanos de Lima (Ale Cabral/CPB)
Silvana Fernandes com a medalha de ouro dos Jogos Parapan-Americanos de Lima (Ale Cabral/CPB)

Após a conquista do título continental, Silvana tinha um novo desafio. Sem muito tempo para comemorar a conquista do Parapan, a atleta seguiu seu ritmo de preparação visando o torneio classificatório para a Paralimpíada de Tóquio, que aconteceu em março deste ano na Costa Rica.

Apesar de toda a situação da pandemia, o torneio aconteceu e Silvana Fernandes fez história mais uma vez. Ao conquistar o título de sua categoria, a brasileira conquistou a vaga na Paralimpíada e estará em Tóquio,edição que marca a estreia do Parataekwondo nos Jogos.

“Foi a realização de um sonho. Desde que comecei essa vida de atleta profissional eu penso em disputar uma Paralimpíada. Agora eu vou trabalhar para conquistar uma medalha em Tóquio. Quero fazer história na modalidade”.

Onde tudo começou

Apesar do sucesso quase que instantâneo no parataekwondo, a história de Silvana Fernandes no esporte começou antes. Aos 14 anos de idade, a atleta começou a praticar o atletismo e começou a ter destaque no arremesso de dardo paralímpico. Contudo, em 2018, a modalidade houve uma mudança no cronograma de modalidades dos Jogos Parapan-Americanos e Silvana sentiu a necessidade de mudar.

Como disputar competições como o Parapan-Americano sempre foi um desejo, Silvana começou a cogitar a mudança de modalidade. E, como se fosse tudo armado e pensado, em uma competição de atletismo o parataekwondo apareceu.

“Eu estava em um competição de atletismo, um representante do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) me viu e me contou sobre o Parataekwondo. Eu pesquisei um pouco, consegui uma aula experimental com o técnico da seleção e foi amor a primeira vista”.

Apesar de ser uma modalidade completamente diferente, os seis anos em que Silvana esteve no atletismo ajudam a atleta no esporte que escolheu para a vida.

“Isso foi um diferencial. Acredito que a minha vontade, dedicação foi essencial para que isso acontecesse. Muitas coisas do atletismo me ajudam no parataekwondo”.

Mudança e treinos convencionais

Silvana Fernandes é natural do interior da Paraíba. Quando decidiu treinar o parataekwondo, a atleta enfrentou um problema. Em seu estado, as academias que tinham a modalidade ficavam em João Pessoa e, para conseguir treinar, Silvana teria que se mudar.

Com o apoio de toda a sua família, a atleta seguiu para a capital do estado e passou a treinar na academia de Adriano Lucena. Porém, ela foi a primeira atleta paralímpica de seu mestre que, por conta disso, passou por uma espécie de aprendizado conjunto durante os primeiros treinos.

A saída encontrada pela dupla foi adaptar os treinos dos atletas convencionais. Silvana nasceu sem uma parte do braço direito e, com isso, os treinamentos são contra atletas do taekwondo olímpico com algumas adaptações.

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“Treino com e contra atletas do convencional. Eles me ajudam com algumas coisas, tem movimentos que eles precisam adaptar um pouco, mas eu consigo fazer e isso para mim é muito gratificante”.

Se inspirar e ser inspiração

Com apenas 21 anos, Silvana Fernandes está em um posição que não estava acostumada. Pela pouca idade e pelo pouco tempo na modalidade, a atleta ainda se motiva observando e aprendendo com atletas que até pouco tempo atrás ela só conhecia como expectadora.

“Me inspiro na Milena Titonelli. O jeito que ela luta, que ela se comporta no tatame eu me inspiro. No Parataekwondo eu me espelho no Nathan Torquato, pela técnica e pela agilidade. Fora da minha modalidade eu me espelho no Petrúcio, do atletismo, tanto pela história de vida e pela pessoa”.

Contudo, desde o ano passado, Silvana passou a ser inspiração também. Na academia que treina na Paraíba, a atleta convive com muitas crianças e, depois de chegar dos Jogos Parapan-Americanos de Lima com a medalha de ouro, ouviu das pessoas que era referência.

“Me vejo sim (como inspiração). Tem muitas crianças na minha academia e quando eu cheguei dos Jogos Parapan-Americanos elas vieram falar que se inspiravam em mim. Isso me dá muito mais motivação para seguir”.

Sobre o futuro, a atleta da seleção brasileira de parataekwondo não mira baixo. Sabendo que está bem no início de sua carreira e, com isso, tem muito espaço para melhora, Silvana é direta no que deseja para os próximos anos.

“Conseguir uma medalha na Paralimpíada de Tóquio, uma medalha no Mundial, que tem na sequência e seguir com a conquista de uma vaga nos Jogos em Paris 2024”, afirma a lutadora.

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