Um levantamento divulgado em abril pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta que 15 cidades paraibanas têm o câncer como principal causa de morte. Destas, 11 (73%) estão localizadas no Sertão do Estado, o que tem levantado o questionamento de especialistas na área: o que está adoecendo os sertanejos?

A resposta não é simples, mas indícios ajudam a decifrar o enigma. Doutor e especialista em Cancerologia Clínica pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), o médico e pesquisador Thiago Lins explica que a doença é multifatorial, porém existem no Sertão algumas características que podem contribuir para a incidência.

“Não temos como dar um diagnóstico, isso requer uma investigação direta nessas regiões. Mas podemos levantar algumas hipóteses. O sertanejo tem, por exemplo, maior exposição solar e menor prevenção com protetor. Podemos também ter um fator causal comum, como o uso de amianto no encanamento, que foi proibido pelo risco de causar câncer de pulmão”, disse.

Hábitos de risco podem influenciar o aparecimento do câncer, mas há também vilões menos perceptíveis, aponta o especialista. “Se você tem hábitos contínuos errados, como fumar e beber, você pode contribuir para o surgimento da doença. Mas se você está ingerindo continuamente água com agentes químicos nocivos, por exemplo, você também pode estar contribuindo para isso. Mas é preciso uma investigação precisa, analisando causa e efeito”, explicou o pesquisador.

O município de Coremas, Sertão paraibano, é o primeiro no ranking das 15 cidades onde o câncer é a principal causa de morte no Estado. Por lá, é fácil encontrar alguém lutando contra a doença que já matou 11.556 pessoas em todo o Estado, desde 2015. Entre os moradores, pairam dúvidas sobre a causa das neoplasias, mas um agente específico tem sido apontado como responsável: as águas contaminadas.

Fonte: Portal Correio